sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A Coisificação do Homem

  • André Lazzarini

A “coisificação” do homem é um sinal do trágico destino da humanidade: a banalização da vida, a perda de valores éticos e morais, invertendo a prioridade da “coisa” sobre a vida. O crescente hedonismo coisifica o homem, pois este passa a ser um instrumento com uma finalidade única e suprema do prazer.

Vende-se a todo instante, através dos meios de comunicação ou por propagandas disseminadas entre as pessoas, a vida fácil, o prazer instantâneo, o valor do “ter” sobre o “ser” das pessoas. O jovem é o alvo mais freqüente e é bombardeado insistentemente com essa inversão de valores. Mas os adultos também são vítimas. Basta uma olhadela na rua ou folhear uma revista para percebermos a banalização da vida humana.

O relativismo moral e religioso é o responsável por essa inversão de valores, que coloca em risco a própria existência do homem. Tudo é verdadeiro e tudo é permitido desde que seja agradável e prazeroso; melhor ainda se for rápido, instantâneo! As pessoas precisam ser críticas a tudo que é colocado à sua disposição, principalmente quando algo é oferecido de forma muito fácil e graciosa: há que se investigar o que está por trás dessa generosidade suspeita.

A pressão para a legalização do aborto, alegando motivos invertidos como justificativa é um exemplo. Oras, alega-se que se há abortos clandestinos, precisamos legalizá-los. Baseando-se nesse raciocínio: se ninguém respeita o limite de velocidade na cidade e estradas, porque não liberá-los? Não! Limita-se a velocidade porque o seu excesso é um risco para vidas humanas. O mesmo raciocínio deve ser aplicado com relação ao aborto – um atentado contra a vida humana. Ainda: se há assaltos a bancos, porque não estudamos uma forma de legalizá-los? Porque o dinheiro é poderoso e é necessário guardá-lo a sete chaves. Então porque não preservar a sete chaves a vida humana, ainda que tenha apenas dias ou semanas, dentro de um útero materno?

Mais uma vez, a solução mágica é apresentada. Como no caso das cotas, aonde é muito mais fácil e eleitoreiro criá-las do que o demorado, mas necessário, investimento na melhora da qualidade da educação pública (Ensino Fundamental e Médio). Se há abortos clandestinos, é muito mais fácil legalizá-lo do que investir em educação e saúde para impedir gestações inconseqüentes. Há a necessidade de parar com os abortos – clandestinos ou não! O caminho correto é a educação. Também urge fiscalizar e condenar aqueles que promovem essa prática clandestinamente.

É preciso parar com essa inversão de valores. É preciso por os “pingos nos is” corretamente. Definitivamente. E assim, livrar as pessoas da banalização da vida humana.

O ser humano é dotado de inteligência. Deve utilizá-la para tomar suas decisões. Deve empregá-la a serviço da vida e da permanência da humanidade sobre a terra. Campanhas de proteção de árvores e matas são lançadas a todo o momento: sim, necessitamos preservar a natureza para sobrevivermos. Mas de que adiantará preservá-las, se o homem aniquila-se a si próprio?


Texto publicado no Jornal de Londrina - edição de 19/10/2007 - pág. 02

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A Igreja de Jesus

André Lazzarini
A polêmica que se cria sobre todos os enunciados do Vaticano ganhou mais munição semana passada. A falta de vontade de conhecer a verdadeira informação, aliada a vontade em criticar a Igreja Católica persiste. E os cristãos católicos que se preparem para os comentários desinformados que já se apresentam. Jesus não disse que seria fácil, ao contrário, Ele deixou bem claro que a luta do Cristão pela pregação da Sua Palavra será sempre um trabalho árduo, longo e conflituoso. Não podemos desistir: "A messe é grande, mas os operários são poucos" (Mateus 9,37).

O conflito, desta vez, recai sobre o documento que o Vaticano publicou, repetindo aquilo que sempre se soube: a Igreja de Jesus subsiste na Igreja Católica. Cristo constituiu sobre a terra uma única Igreja que existirá eternamente, permanecendo com todos os elementos por Ele instituídos. Esta Igreja subsiste na Igreja Católica, já que esta é a única que permanece ao longo da história fiel aos ensinamentos e aos Sacramentos instituídos por Ele. Embora a Igreja Católica permaneça fiel a Jesus através da sucessão apostólica iniciada com São Pedro, o Vaticano insiste que todos os cristãos podem e devem procurar uma unidade verdadeira em Seus ensinamentos. Ele mostra ainda que essa união é necessária e possível, já que, nas igrejas e comunidades eclesiais cristãs surgidas por cismas ou pós-reforma (mas que ainda mantém alguns sacramentos verdadeiramente cristãos), a Igreja de Cristo é presente através da Verdade e dos Elementos de Santificação que existem nelas. Essas comunidades, apesar de não estarem em comunhão com a Igreja Católica, são passíveis de qualidades salvíficas, ou seja, não são vazias de peso e de significado, no sentido que o Espírito de Cristo não se recusa a servir-se delas como instrumentos de salvação.

A afirmação “subsiste” é real, pois a doutrina que se transmite ao longo da história não se modifica minimamente. Essa expressão mostra a plena identidade da Igreja de Cristo com a Igreja Católica.

O Concílio Vaticano II insiste em afirmar também que existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da Igreja Católica, ou seja, nas Comunidades Eclesiais. Jesus deixou na Igreja Católica, através de seu Espírito Santo, os meios de salvação, mas as divisões entre os cristãos impedem que ela atue de forma plena sobre todos Seus filhos. Este documento promulgado pela Congregação para a Doutrina da Fé constitui uma clara chamada de atenção para a doutrina católica sobre a Igreja. E mostra o caminho certo para o diálogo ecumênico, dando-lhe prioridade Para saber mais, acesse http://www.vatican.va/ ou consulte: - Igreja Católica, fundada por Jesus: Mt 18,17; 28,19s; Jo 17,4. – una no governo e na doutrina: Jo 10,16; 17,20-23; At 4,32; I Cor 12,12s; 14,33; Ef 4,3-6; Col 1,18; 3,15. – católica (universal): Mt 24,14; 28,19; At 2,5-11; 10, 28-34s; I Tim 2,4. – apostólica: Mt 16,18s; 18,18; At 1,12-26; Ef 2,20ss; I Tim 4,14; Apoc 21,14. – São Pedro e seus sucessores (papas): Mt 16,16-19; Lc 22,31s; Jo 1,41s; 21,15ss.



Artigo publicado (com cortes) na Folha de Londrina - edição de 23/07/2007 - página 02

Direção perigosa agora (?) é pecado (!!!)

Matéria publicada na Folha de Londrina, 20/06/2007:
Manchete na primeira página:

Vaticano divulga cartilha com orientações para os motoristas inspirada nos dez mandamentos(http://www.bonde.com.br/folhadelondrina/) - edição de 20/06/2007

A Matéria na página 10 do jornal impresso:

Ultrapassagem perigosa é pecado

Cidade do Vaticano- A ultrapassagem de um carro de forma perigosa é pecado para a Igreja Católica, segundo as recomendações divulgadas pelo Vaticano ontem para os motoristas. A ausência de cortesia, os gestos vulgares, as blasfêmias e os insultos também figuram entre os pecados mais comuns praticados pelos motoristas, assegurou o cardeal Renato Martino ao apresentar o documento ''Orientações para a pastoral das estradas'' preparada pelo Conselho Pontifício para os Migrantes, que recorda que os católicos devem fazer o sinal da cruz antes de iniciar uma viagem. ''Os meios de transporte podem servir para promover as virtudes cristãs, entre elas a prudência, a paciência e a caridade'', afirma o Conselho, que elaborou um ''decálogo especial'' para os motoristas inspirado nos dez mandamentos.France Presse




Enviei ao Jornal a seguinte carta, comentando a matéria:

Pastoral das Estradas

Noticiado em primeira página, em letras garrafais, a Folha de Londrina desinforma seus leitores sobre a verdade dos fatos (edição de 20/06/2007 – Direção perigosa agora é pecado – página 10). Não existe nenhuma publicação ou declaração da Igreja Católica a respeito de ser “pecado” qualquer transgressão no trânsito. O resumo desta notícia – versão verdadeira – está à disposição no site http://www.zenit.org/article-15391?l=portuguese. O documento original, em italiano, encontra-se no site do vaticano, no endereço: http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/20446.php?index=20446&po_date=19.06.2007&lang=po.
No dito documento, em momento algum é proposto que alguma atitude desrespeitosa ou irresponsável no trânsito seja “pecado”, como sugere tal notícia publicada na Folha. Quando o jornal dá essa interpretação, banaliza irresponsavelmente um assunto extremamente importante: a preservação da vida no trânsito.
O número assustador de mortos nas ruas e estradas preocupa todos aqueles que defendem a vida. O Vaticano propõe que a “Pastoral das Estradas” seja difundida pelas Conferências Episcopais nos países em que ela ainda não existe. Tal Pastoral propõe-se a diminuir esses sofrimentos e mortes: ela deve agir de forma educativa e orientar os envolvidos no trânsito para que defendam a vida, sejam atenciosos e responsáveis. Entre as diversas ações, foram propostos dez tópicos – análogos aos Dez Mandamentos do Senhor – que orientam para a defesa da vida acima de tudo, além de uma convivência fraternal no trânsito, pautado sempre pela cortesia, prudência, caridade, apoio, perdão e responsabilidade.
Esta Pastoral tem, como uma de suas missões, denunciar situações perigosas e injustas causadas frequentemente pelo tráfego. Além disso, a Igreja e o Estado devem unir-se para combater a violência do trânsito, sob o objetivo comum da defesa da vida.
Se todos forem responsáveis quando estiverem no trânsito, observarem rigorosamente as regras básicas de defesa da vida, muitas mortes, mutilações e sofrimentos poderão ser evitados. Não precisa ser católico para perceber isso... aliás, não precisa seguir nenhuma religião para perceber o valor da vida e o cuidado que devemos ter para preservá-la!



A Folha de Londrina não quis publicar tal carta, sob a seguinte alegação:
Caro André, a notícia publicada pela Folha da agência France Presse traz exatamente o que os demais meios de comunicação informaram a respeito dos 10 mandamentos do motorista recomendados pelo Vaticano. A própria TV Globo, com sua correspondente na Itália, deu a mesma notícia. Portanto, não vemos razão para publicação de seu artigo. Contanto com sua compreensão e atenção, Editoria de Opinião da Folha de Londrina.




O que dizer????
Oras, a FOLHA DE LONDRINA coloca-se numa posição parcial, quando não admite um comentário de uma matéria que publica. Na verdade, não aceita a crítica.
A matéria publicada pela Folha, enquanto pouco mostra o verdadeiro objetivo da divulgação feita no Vaticano, propõe uma visão debochada e extremamente superficial, sobre um assunto sério debatido e proposto por uma instituição milenar que é a Igreja Católica.




No dia seguinte (21/06/2007), a Folha de Londrina publica novamente a mesma matéria, mas desta vez re-escrita por uma jornalista local. Piorou, pois agora esta jornalista foi às ruas buscar opiniões sobre o título da matéria e não sobre o conteúdo da matéria original - aliás, conteúdo que a Folha nunca deu seu verdadeiro e correto destaque. Subentende-se que o seu objetivo é superficial; não é de discutir o cerne da questão e muito menos divulgar o documento correto e verdadeiro emitido pelo Vaticano. Vejamos abaixo essa sequência:

No caderno CIDADES, página 02 - na coluna Fala, cidadão:

Você acha que dirigir de forma perigosa é pecado?

  • ''Penso que não. Acho que no dia-a-dia é preciso se acostumar. Sou católico não praticante, e acho que não tem nada a ver. Pecado é sair de casa mal-humorado e distribuir sua raiva em todo mundo na rua.'' Antônio Valério, 54 anos, taxista.
  • ''Depende. Tem que ver o que é a dirigir perigosamente. Se põe a vida de outras pessoas em risco, como dirigir em alta velocidade, furar semáforos, eu acho que é pecado sim. Se não, é falta de respeito e irresponsabilidade.'' Dartagnan de Vitor Carvalho Silva, 22 anos, auxiliar administrativo.
  • ''Sim, porque se a pessoa dirige de forma perigosa e mata alguém está pecando. Por isso concordo com essa orientação da Igreja. Acho que hoje em dia as pessoas não respeitam muito, e com isso elas vão se conscientizar mais.''Cláudia Manella, 34 anos, secretária.
  • ''Eu acho que considerar isso pecado é uma forma de sensibilizar as pessoas, e vai contribuir para melhorar o trânsito. Se for analisar a fundo, acho que é pecado sim. A gente vê cada barbaridade no trânsito que é só por Deus mesmo.'' Ângela Grigonis, 26 anos, comerciante.

Publicado no site (http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=22881LINKCHMdt=20070621)

Mais à frente, na página 04, a seguinte reportagem, sob o título:


Direção perigosa agora é pecado

A Igreja Católica divulgou esta semana uma lista dos dez mandamentos do motorista, considerando pecado desrespeitar orientações como ter cortesia, correção e prudência, ajudar o próximo em necessidade e as famílias dos acidentados, proteger a parte mais vulnerável, ser responsável para com o próximo e promover o perdão entre culpados e vítimas. A idéia de que, além de correr o risco de levar uma multa, o motorista pode também estar cometendo um pecado ao infringir as leis de trânsito pode, a longo prazo, provocar uma mudança de comportamento nos condutores de veículos. Essa é a opinião de Eliana Aparecida Ramos Damaceno, 42 anos. Ela é vereadora em Jaguapitã, e não gosta de dirigir em Londrina, porque aqui ''as pessoas não têm muito respeito''. Para ela, a cordialidade, o respeito e a prudência no trânsito são necessários independentemente da religião da pessoa. ''Não considero a infração a esses princípios um pecado, mas uma falta de respeito com o ser humano. Carro não é arma, é um meio de transporte'', define. Já o taxista Armando de Jesus, 60 anos, acredita que esse posicionamento da Igreja Católica não deve influir muito na atitude de cada um. ''Cada um deve saber o que faz'', recomenda. Mesmo sem ser católico, Armando concorda com a atitude da igreja em relação ao assunto. ''O motorista de Londrina buzina bastante, acha melhor buzinar do que frear. É preciso ter mais paciência. Não é fácil, mas a pessoa tem que se esforçar. Eu mesmo nem ligo, já me acostumei'', afirma.
Para Ildefonso Dellaroza, 77 anos, que sempre trabalhou dirigindo e há mais de 20 anos atua como taxista no mesmo ponto, manter a calma e ter paciência no trânsito de hoje é uma missão difícil. ''Às vezes tem carro que fica fazendo cera na minha frente, o motorista não anda dentro da faixa da sua pista, fala ao celular, e isso me irrita. Acho que cada um tem seu temperamento, e eu sou meio nervoso. Queria ser mais calmo, mas já nasci com o sangue meio violado'', argumenta. Apesar desse temperamento, Dellaroza preocupa-se em manter uma boa conduta no trânsito. O taxista conta que já se envolveu em um acidente em que o outro motorista estaria errado, mas acabou pagando o conserto de ambos os carros. ''Ele ficou tão feliz que veio me mostrar o carro dele consertado. E saiu falando bem de mim. Também sempre ajudo no que posso quando vejo um acidente'', conta, mostrando que, mesmo antes de o Vaticano divulgar os dez mandamentos do motorista, já havia praticado alguns deles.
O padre Romão Martins reconhece que a correria e o stress do dia-a-dia levam muitos a descontar sua raiva no trânsito, acabando por infringir algumas regras de conduta. ''A orientação do Vaticano procede, porque qualquer atentado contra a vida é um pecado. Pecado é tudo aquilo que atenta contra a vida e prejudica as relações humanas e com Deus'', esclarece, lembrando que se omitir ao invés de ajudar também é pecar. Para Romão, além de refletir, essas orientações devem levar o motorista a preparar o espírito e o coração para enfrentar o trânsito cada vez mais conturbado das grandes cidades. ''Eu mesmo já fui multado. Não é vergonha receber uma multa, porque qualquer pessoa é passível de cometer um erro. O que não se pode é fazer disso uma regra, colocar a vida alheia em risco. Prejudicar a vida de alguém é pior, e o valor é tão alto que não tem preço''.

Adriana Ito
Reportagem Local
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=22906LINKCHMdt=20070621




Veja que, desta vez, a repórter não menciona a Pastoral das Estradas e nem a preocupação do Vaticano com a divulgação e crescimento desta Pastoral como um braço da Igreja que protegerá vidas e diminuirá o sofrimento das vítimas do trânsito.



Escrevi nova carta para a Folha, que desta vez, não se dignou a responder e muito menos a publicá-la. Veja a seguir:

Prezado Editor
Agora que publicaram uma reportagem local a respeito do assunto (não é uma reportagem "comprada" de outro veículo), acredito que aceitarão meus comentários...Segue, então, minha opinião para o Espaço Aberto, a respeito da reportagem entitulada "Direção perigosa agora é pecado".
Grato pela atenção

Pastoral das Estradas

O título de uma notícia publicada na página 04 do caderno Cidades, da edição de 21/06/2007, desvirtua o conteúdo da matéria original: a divulgação da Pastoral das Estradas pelo Vaticano, no último dia 19/06. Outros jornais, como "O Estado De São Paulo" por exemplo, noticiaram a mesma matéria com uma chamada mais objetiva "Os Dez Mandamentos do Trânsito", e uma descrição objetiva de seu conteúdo, não perdendo seu foco em nenhum momento - confira no site: http://www.estadao.com.br/ultimas/mundo/noticias/2007/jun/19/178.htm. O conteúdo dessa notícia está também à disposição no site http://www.zenit.org/article-15391?l=portuguese. O documento original, em italiano, encontra-se no site do vaticano, no endereço: http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/20446.php?index=20446&po_date=19.06.2007&lang=po.
As colocações do Padre Romão Martins foram muito bem vindas, já que esclarece o nobre objetivo da defesa da vida, e que qualquer ato contra a vida é uma transgressão moral: obviamente torna-se um pecado para os católicos e uma insensatez para aqueles que não são católicos ou que não acreditam em pecado!
O número assustador de mortos nas ruas e estradas preocupa todos aqueles que defendem a vida. O Vaticano propõe que a “Pastoral das Estradas” seja difundida pelas Conferências Episcopais nos países em que ela ainda não existe. Tal Pastoral propõe-se a diminuir esses sofrimentos e mortes: ela deve agir de forma educativa e orientar os envolvidos no trânsito para que defendam a vida, sejam atenciosos e responsáveis. Entre as diversas ações, foram propostos dez tópicos – análogos aos Dez Mandamentos do Senhor – que orientam para a defesa da vida acima de tudo, além de uma convivência fraternal no trânsito, pautado sempre pela cortesia, prudência, caridade, apoio, perdão e responsabilidade.
Esta Pastoral tem, como uma de suas missões, denunciar situações perigosas e injustas causadas frequentemente pelo tráfego. Além disso, a Igreja e o Estado devem unir-se para combater a violência do trânsito, sob o objetivo comum da defesa da vida.
Se todos forem responsáveis quando estiverem no trânsito, observarem rigorosamente as regras básicas de defesa da vida, muitas mortes, mutilações e sofrimentos poderão ser evitados. Não precisa ser católico para perceber isso... aliás, não precisa seguir nenhuma religião para perceber o valor da vida e o cuidado que devemos ter para preservá-la!


Essa carta não foi publicada e a Folha de Londrina não se dignou a respondê-la.

Estado e Igreja

Jornal de Londrina - Editorial - 19/06/2007:

"Estado e Igreja"

"Reportagem publicada na edição de domingo do JL mostra que o vereador Paulo Arildo (PSDB) tenta, através de projeto de lei, vetar a distribuição da chamada pílula do dia seguinte em serviços públicos de saúde. De acordo com a Secretaria Municipal de Saude, o medicamento é distribuido em casos extremos (como violência sexual) e ministrado mediante acompanhamento. O procedimento foi adotado em dois casos no último quadrimestre.O tema do projeto é polêmico e delicado. Trata de um caso de saúde pública, mas que para alguns, ganha contornos religiosos, o que foge do ideal de racionalidade que rege o Estado moderno.O problema é que o autor do projeto ignora o caráter laico do Estado brasileiro. A constituição garante a liberdade de culto e de crença, mas não adota uma religião oficial. O vereador ignora ainda que esse mesmo estado representa tanto a maioria cristã, quanto a minoria formada por integrantes de outras crenças e confissões, incluindo céticos.Políticas públicas devem ser pautadas pelo objetivo de atender toda a sociedade sem que a opção religiosa seja levada em conta. Não cabe ao estado fazer juízo de valor ou discriminar qualquer cidadão ao formular suas políticas, principalmente numa área delicada como a saúde. O que se admite é que os cidadãos, com base na liuberdade garantida pelo texto constitucional, alicercem opções individuais nas suas convicções religiosas."


Comentário escrito por mim, em carta enviada ao JL, publicada no dia seguinte - 20/06/2007, sob o título ABORTO É PENA DE MORTE (título colocado por eles - título original é "A respeito do Editorial de 19/06/2007"):
"Aborto é pena de morte"
"É decepcionante ler num jornal que tem uma circulação considerável no município de Londrina, um editorial expondo uma visão limitada a respeito de um assunto de importância vital como o aborto. Não conheço o projeto do referido vereador e não vem ao caso, já que mais grave são as palavras deste editorial. O aborto não é uma questão somente religiosa. Muito antes, é uma questão de defesa da vida e cabe ao Estado defendê-la incondicionalmente, independente de qualquer credo religioso. A insistência em tornar essa discussão unicamente religiosa é, no mínimo, capciosa, se não mal intencionada. O povo brasileiro não pode aceitar, em hipótese nenhuma, que o Estado tenha o poder de decidir quem deve viver e quem deve morrer. Aborto é pena de morte. Independente dos motivos que leva alguém a pensar nessa hipótese, o Estado deve ser tutor da vida e, através de missões educativas e orientadoras, impedir que a morte sobrevenha sobre qualquer um, principalmente sobre os inocentes fetos ainda gestantes. Corrigindo uma frase de tal editorial: "Políticas públicas devem ser pautadas pela defesa da vida, sem que a opção religiosa seja levada em conta"."

Acusações infundades

André Lazzarini
Acusa a Igreja Católica de obscurantista? Sente-se aliviada porque “já se livrou da doutrinação” da Igreja Católica? (Folha de Londrina - Cartas, página 02 - edição de 25/05/07) Então assuma sua opção de vida sem agredir uma instituição milenar que prega a vida segundo o Cristianismo: o amor, a paz e a defesa da vida, e por isso é contra o uso da camisinha, o aborto e as pesquisas com células tronco de origem embrionária: a camisinha banaliza o amor e prega a libertinagem sexual e o aborto é um atentado contra a vida humana! Porque matar seres vivos se os cientistas podem obter resultados tão positivos com as células tronco obtidas de adultos? Ora, não lhe parece uma ambigüidade matar um embrião para pesquisar uma possível cura? Já pensou que este embrião poderia ter sido você?

A rebeldia contra o Criador

  • André Lazzarini

Certas pessoas teimam em algumas idéias, imaginam situações, criam subterfúgios para justificar suas crenças e/ou derrubar outras. Há uma infinidade de fontes de pesquisa para justificar todas as abobrinhas que se desejar.
É fácil demais ficar pregando heresias contra a Bíblia, dizendo que foi recortada aos sabores de governantes temporários, re-escrita para sustentar necessidades de governos e ludibriar pessoas.
Mais fácil ainda é pregar a dificuldade de sermos humildes perante nosso Pai, procurando confundir a cabeça das pessoas com suspeitas infundadas e teorias anarquistas.
O homem, em toda sua história, mostrou que tenta se igualar ou até superar seu Criador: em suas conquistas intermináveis, em suas ânsias de poder e sabedoria, em ações justificadas por seitas e crenças perfeitamente adaptáveis às suas necessidades momentâneas.
É a rebeldia de um filho jovem, adolescente, que ainda não amadureceu e, portanto, não aceita o poder de seu Pai sobre si. Vai “cair do cavalo” como todos os adolescentes caem quando percebem a realidade nua e crua à sua volta. Quando perceberem que Deus é Pai, Criador e perfeito, seu castelo de areia desmoronará.
Podem falar quantas bobagens quiser: Jesus pregou o espiritismo, não quis uma igreja organizada, esta igreja é obra dos homens, os papas são monarcas sedentos de poder e utilizam-na para saciar seus mais íntimos desejos de soberania. E vai por aí afora.
Por mais que eu justifique fatos baseado em dados concretos, pesquisando nas escrituras sagradas e em autores de fé, sempre haverá a insistência de desmoralização e a justificativa doentia para suas crenças.
Admiro-me como ainda não desceram o nível propondo a discussão sobre a origem do universo e a origem do homem: muito provavelmente as teorias a serem pregadas são as mais confusas possíveis, baseadas em teorias discutíveis que relutam em aceitar que, por trás de tudo, possa haver um criador.
Difícil mesmo parece ser aceitar, humildemente, que nosso Deus é Todo Poderoso, que Ele deixou para nós a Igreja Católica, com os preceitos básicos do cristianismo: amor ao próximo, fé e devoção ao Pai, caridade, santificação, pureza e respeito à hierarquia da Igreja.
Conheço uma história semelhante, com base na Bíblia: diz que um dos anjos do Senhor, ao saber que ele enviaria à terra Seu próprio Filho, e que esse Filho seria um Rei e teria todos os poderes e conhecimentos do Céu e da Terra, ficou indignado e, não aceitando ser submisso à um Deus Humanizado (que tomou a forma de um reles homem), rebelou-se contra seu criador. Juntou uma turba de anjos (dizem ser 1/3 dos existentes) e renegou sua criação eternamente. Por isso, foi condenado a viver na escuridão por toda eternidade, e o seu pecado – o de renegar seu Criador – é eterno e imperdoável. Assim, ele disputa o Reino de Deus até hoje, utilizando-se das táticas mais surpreendentes para convencer o homem de que ele também deve renegar seu Criador.
Por isso vemos como está o mundo de hoje: muitos são os que aceitam esse convite sedutor e entregam sua alma para este rebelde, relutando em aceitar o Verdadeiro, e pregam a confusão, a mistura e a descrença.

A Igreja de Jesus

André Lazzarini

A Igreja Católica foi deixada por Jesus para nós, mas foi um crescimento e uma evolução desde a semente que plantou. Podemos lançar uma semente na terra e ver surgir, num piscar de olhos, uma árvore carregada de frutos maduros e suculentos? Assim como a semente germina, cresce para chegar à árvore e frutifica, o Catolicismo também seguiu esse mesmo caminho.

Jesus pensou em fundar uma Igreja? Sim! Igreja, do grego “ekklêsia”, assembléia, entende-se por uma reunião convocada por um pregoeiro público. Portanto, são assembléias as reuniões dos cristãos que se reúnem numa casa (Rm 16,5; Cl 4,15), ou mais abrangente, quando se trata da Igreja de Jerusalém (At 8,1; 11,22; 15,24), a Igreja de Antioquia (At 14,26; 15,3; 23,1), as igrejas da judéia (Gl 1,22), da Ásia (1Cor 16,19) e da Macedônia (2Cor 8,1).

Segundo Mt 16,18: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”. Jesus mudou o nome de Simão para Pedro (“Kepha” em aramaico) que, segundo o uso bíblico, a mudança de nome é sinal de um benefício. “Kepha” é masculino e significa rocha, pedra. Ou seja, Jesus disse que a rocha é o próprio Simão (dando-lhe o nome de “Kepha = Rocha“ a partir daquele instante) e sobre ele erguer-se-ia a Sua Igreja (entendamos que a frase, no original, ficaria assim: Tu és Kepha, e sobre essa Kepha edificarei minha Igreja = Tu és Rocha e sobre essa Rocha edificarei minha Igreja). Não há outro sentido para essa frase, se formos buscar sua origem verdadeira. Pedro e pedra são traduções que levam a um fácil entendimento prático aos leigos, mas é superficial, e assim sendo, pode dar combustível para interpretações capciosas.

Vemos também nos Atos 5,11; 8,1-3; 9,31; e nas Epístolas de S. Paulo (1Cor 10,32; 11,16; 14,1; 15,9; Gl 1,13; Ef 1,23; 5,23; Cl 1,18) e Epístola de S. Tiago 5,14. Segundo Lucas, 27,20: “O reino de Deus está em vós”. Jesus diz que, de uma forma espiritual o reino de Deus já existe e é presente: “não estará ali ou acolá; mas sim no meio de vós”. O Reino à que Jesus se referia é a nova religião, o Cristianismo, que permanecerá no nosso meio até seu retorno. Tal reino de Deus tem duas faces: terrestre e celeste. A primeira é oferecida aos homens. A segunda será estabelecida nos céus.

A essência da religião pregada por Jesus é, sobretudo, espiritual com uma renovação interior pela fé, caridade e amor ao Pai. Jesus ensinou que essa renovação espiritual deveria corrigir um conceito, da época, da espera de um reino temporal; mas sim de um reino universal, para todos os povos, no qual poderia entrar todo homem de boa vontade pela prática de virtudes morais e interiores. Jesus demonstrava isso através de suas parábolas. Vemos ainda a hierarquia instituída por Jesus:

  • o colégio dos doze e seus sucessores (Mt 10,2-4; Mc 3,13-19; Lc 6,13-16; Jo 1,35-51): conferiu os poderes de ensinar, reger e santificar (Mt 28, 19,20);
  • fundou uma hierarquia, conferindo uma autoridade visível e permanente: à frente colocou um chefe único: Pedro e seus sucessores (Mt 16,18-19). Em Jo, 21,15-17, Jesus questiona insistentemente a lealdade de Pedro e termina: “Apascenta as minhas ovelhas”. Conforme o uso corrente da época, apascentar significa governar – dando-lhe então a autoridade soberana da Igreja de Cristo: ser o chefe supremo; ainda a escolha de Matias para ocupar o lugar de Judas (At 1,12-26); o Pentecostes, quando S. Pedro começou sua pregação e fez numerosas conversões (At 2,37) e quando os apóstolos instituíram os diáconos, delegando-lhes seus poderes (At 6,1-6) são claros exemplos do início da hierarquia da Igreja; e o primado de S. Pedro é transmissível: vemos em Mt 16,17-19 e em Mt 28,20: “(...) eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”. Assim, o poder de Pedro é transmitido até hoje e o será até o final dos tempos;
  • garantiu à preservação de sua doutrina através do privilégio da infalibilidade: que é a preservação de todo erro doutrinal, garantida pela assistência especial do Espírito Santo. Jesus constituiu uma autoridade viva, um magistério infalível que recebeu a missão de determinar quais os livros inspirados, de interpretá-los autenticamente e de haurir nessa fonte a verdadeira doutrina de Jesus.

Esse privilégio apóia-se:

  • nos textos da Escritura: Mt 17,18: “(...) as portas do inferno não prevalecerão contra ela” –a Igreja – e às promessas de enviar aos apóstolos o Espírito da verdade (Jo 14,16; 15,26) e icar com eles até o fim do mundo (Mt 28,20). Essas promessas significam que os apóstolos ão poderão errar quando ensinarem a doutrina de Jesus, porque o erro não existe onde se ncontra o Espírito Santo.
  • no modo de proceder dos apóstolos: confirmam a verdade de sua doutrina pelos muitos milagres que operaram, provando sua autêntica e infalível representação de Cristo.
    Concluindo, quero reproduzir as palavras do jornalista Mario Sabino: “soam patéticas as pretensiosas idéias de dar lições e sobrevivência a uma instituição com mais de 2000 anos e existência. A Igreja não precisa de conselho dos neófitos. Foi suficientemente humilde para reconhecer uma série de pecados e, assim, restringi-los aos livros de história”.

André Lazzarini

O que é fé? É acreditar com o coração. É acreditar naquilo que não vemos, não tocamos com as mãos, mas enxergamos com o coração e sentimos com o espírito. É um acreditar sem contestar. É um crer sem ter medo. É uma certeza inconteste, indubitavelmente verdadeira. A fé é assim: simplesmente acreditamos. A fé purifica nossas almas e transborda nossos espíritos de felicidade. Porque ter fé é ter certeza e segurança. Se tivéssemos a fé que Jesus pediu-nos, seríamos muito mais felizes, e não precisaríamos nos preocupar com as tribulações do dia-a-dia, com as dificuldades da vida, pois a fé nos dá a certeza de um amanhã certo e seguro, sem medo de errar, sem medo de falhar.Por isso somos interpelados a todo o momento por Deus, através dos padres nas missas, através das leituras e nas homilias: “acreditem, não duvidem! Não tenham medo de acreditar, não tenham medo de entregar-se inteiramente a Deus, devotar sua vida por Ele, incorporar Seus ensinamentos e vivê-los intensamente”.

Deus nunca quis a desunião, a disputa e nem a rebeldia de Seus filhos. Muito mais do que nós amamos e educamos nossos filhos, dando-os liberdade de escolha, mas mostrando-lhes o caminho certo, Deus o faz conosco. E às vezes nossos filhos se perdem por caminhos tortuosos e escuros, quando somos obrigados, por amor, a resgatá-los para o caminho certo. Nem sempre temos sucesso, e nesses momentos sofremos. Assim Deus age conosco: Ele nos dá a liberdade de escolha, mas nem sempre o ouvimos. Ele também sofre com nossos desvios. Ele procura nos resgatar, mostrando-nos a direção correta a seguir. Se abrirmos os olhos do coração, deixarmos a fé n’Ele dominar nossos horizontes, Ele festejará a nossa volta. Encontraremos a Sua luz e seguiremos junto d’Ele para a vida eterna.

O mundo de hoje procura nos confundir, misturando tudo numa mesma cesta, como num grande varejo. A fé é esquecida ou misturada com crenças e seduções materiais e duvidosas promessas espirituais. Os valores são invertidos para que a escolha fique difícil e seja confusa.

Aquele que tiver o coração aberto e a fé cultivada, ao ver Jesus passando, segue-o incondicionalmente, por toda sua vida. Nele temos a certeza de nossa vitória, conquistando a paz de espírito, o amor transbordante e a vida eterna.Nem sempre este é o caminho mais fácil de seguir. Assim como a vida nos exige esforços e dedicações, sacrifícios e persistência, a fé também nos exige o mesmo. Ir à missa, rezar, observar os sacramentos, obedecer as orientações da Santa Igreja e, enfim, perseverar numa vida cristã são pontos básicos para cultivarmos nossa fé. Viver em paz com as pessoas, cultivar os bons costumes e afastar-nos daquilo que contraria Seus ensinamentos são alguns dos preceitos básicos para vivermos o cristianismo verdadeiro.

A paz conquistada quando nos decidimos por uma vida de fé é algo indescritível. Deixando Jesus guiar nossa vida, depositando nele a total e incondicional confiança traz uma segurança e uma certeza incomparável. E tudo isso está aí, a nossa disposição. Basta dizermos “sim”!

Estado laico, Estado louco

Por José Maria e Silva


Se depender do Estado laico dos uspianos e de Lula, a nudez grotesca do travesti na via pública não poderá ser criticada — mas um bebê poderá ser extirpado do útero da mãe como um tumor

Com uma deselegância indigna de um Estado civilizado, o governo brasileiro deixou claro — ainda durante a visita do Papa Bento XVI — que não está disposto a dialogar com o Vaticano a respeito de questões como o aborto. Trata-se de mais um estelionato eleitoral cometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde que tomou posse em 1º de janeiro de 2003. Mesmo sendo uma bandeira histórica do PT, a legalização do aborto foi propositalmente escondida durante a campanha de Lula com vistas à reeleição. Em 22 de outubro de 2006, às vésperas do segundo turno, quando o PT demonizava Geraldo Alckmin como suposto membro da Opus Dei, escrevi no Jornal Opção: "Lula esconde dos eleitores que a implantação do aborto é uma das principais políticas públicas de seu governo, perdendo apenas para a santificação do homossexualismo. Em seu programa com vistas à reeleição, o presidente petista propõe 'a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia'. Ou seja, tirar a vida de um bebê deixará de ser crime; mas criticar a conduta de um travesti passará a sê-lo".

Na época, o artigo parecia excesso de radicalismo da minha parte; todavia, surpreendendo até a mim mesmo, que não esperava tanta celeridade dos petistas nessa questão, em menos de seis meses do segundo mandato, o governo Lula já se dedica a promover uma completa inversão dos valores morais da sociedade brasileira. Se depender do Estado laico petista, a nudez grotesca do travesti na via pública não poderá mais ser criticada, mas um bebê inocente poderá ser extirpado do útero de sua mãe como se fosse um tumor maligno. No Congresso, parlamentares petistas que são contrários à Lei da Homofobia — um projeto inegavelmente inconstitucional — estão sendo coagidos a mudar de idéia e apoiar sua aprovação. O alinhamento obrigatório com o partido pode se estender aos seus membros que são contrários ao aborto, como o deputado Luiz Bassuma, do PT da Bahia, presidente da Frente Parlamentar Mista de Defesa da Vida e Contra o Aborto. Como fez pacto com o mercado e já não tem autoridade para pregar a revolução econômica, o PT está empenhado em alinhar consciências morais, impondo sua agenda socialista no campo dos costumes. Para isso, o PT conta com três grandes aliados — as universidades, o Ministério Público e o Judiciário.

Privilégios do crime — Hoje, a "moral" de esquerda — tão cara à pensatriz Marilena Chauí — se tornou majoritária entre intelectuais, promotores e magistrados, a exemplo do que ocorreu nos regimes totalitários da primeira metade do século XX. Hitler só se tornou possível porque a mentalidade predominante naquele momento histórico não hesitava em sacrificar o indivíduo no altar da coletividade — característica inerente a todos os regimes totalitários, seja o nazismo, seja o marxismo, fazendo deles "irmãos siameses", como observa o sociólogo francês Alain Besançon. É o que está ocorrendo no Brasil, em que a pessoa de bem foi completamente destituída de sua individualidade — hoje, só o criminoso goza do privilégio de ser indivíduo no Brasil. Enquanto bandidos são "sujeitos de direitos" dentro da própria cadeia, recebendo tratamento personalizado do Estado brasileiro, as vítimas são meras estatísticas nos prontuários de delegacias, hospitais e necrotérios. Quanto mais monstruoso é um assassino, como Champinha ou Beira-Mar, melhor é o atendimento personalizado que recebe. E se uma vítima — como o menino João Hélio — é arrancada do anonimato pela comoção pública, não faltam intelectuais uspianos, como o sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, para devolvê-lo às estatísticas, sob a alegação de que não se deve chorar um burguês, ainda que esse "burguês" seja uma inocente criancinha.

Há muito os intelectuais marxistas mataram Deus — e não vêem a hora de aniquilar o indivíduo, feito à imagem e semelhança divina. Daí o ódio que devotam ao Papa Bento XVI, porque este Papa, mais do que João Paulo II, não transige com o perigoso relativismo do mundo moderno, que não hesita em fazer do homem uma massa de modelar nas mãos de falsos profetas, como o próprio Marx. Durante a visita do Papa, boa parte do noticiário da imprensa devotou-se à missão de jogar a população brasileira, inclusive os católicos, contra o Sumo Pontífice. Em que pese a Rede Globo se mostrar mais favorável ao Papa (provavelmente, devido à sua guerra particular contra os evangélicos), o jornalismo do canal Globonews, na TV paga, deu amplo espaço para os críticos do Vaticano. Num trocadilho malévolo com sua nacionalidade, Bento XVI chegou a ser chamado de "pastor alemão". Mas o mau exemplo vem da própria Europa: o diário londrino The Times disse que o Papa "chegou atirando" ao Brasil, apenas porque Bento XVI — como não poderia deixar de ser — defendeu a sacralidade da vida. Ora, o grande sábio francês Émile Durkheim (1858-1917), verdadeiro pai da sociologia, também sustentava a sacralidade do indivíduo humano, apesar de ser um ateu assumido.

Mas Émile Durkheim só era capaz de não crer em Deus e, mesmo assim, respeitar profundamente o indivíduo, porque nunca se imaginou capaz de reconstruir o mundo à imagem e semelhança de sua própria cabeça, como quis Jean-Jacques Rousseau, o pai de todos os revolucionários, e Karl Marx, seu discípulo mais charlatão. Seguindo o exemplo de Aristóteles, o maior de todos os filósofos, Durkheim tinha a humildade dos sábios, inclusive para reconhecer que — mesmo sendo um homem de ciência, ateu e racionalista — muito devia à religião. Se os tutores uspianos do presidente Lula — que lhe mandam repetir psitacideamente o vocábulo laico — conhecessem verdadeiramente Durkheim, o Brasil não estaria chafurdando no abismo moral da anomia, como ocorre hoje. Como sociólogo e um dos reformadores do ensino na França, justamente no momento em que se dava a separação entre Igreja e Estado no país, Durkheim ajudou a forjar, na prática, as Repúblicas laicas do mundo contemporâneo. Enquanto o megalômano Marx queria destruir o universo por se julgar capaz de construir outro, Durkheim, humildemente, limitava-se a tentar tornar este mundo um pouco menos ruim do que sempre foi.

Sócrates e Cristo — Mesmo sendo um dos pais espirituais da República laica, Durkheim nunca deixou de reconhecer o papel da Igreja na formação do Ocidente e na construção do indivíduo. No livro A Evolução Pedagógica, publicado postumamente em 1938, mas iniciado no ano de 1904, como um curso de história do ensino na França, no âmago das reformas que promovia na escola francesa, Durkheim resgata a importância da Igreja na Idade Média, mostrando que ela foi a única instituição capaz de garantir o mínimo de ordem na convulsa Europa das invasões bárbaras: "De todas as escolas municipais que ilustraram a Gália a partir do século IV, não resta nada; todas elas foram varridas, levadas pela torrente da invasão; apenas as escolas dos mosteiros e das igrejas permaneceram abertas. Foram os únicos órgãos da educação pública, os únicos lugares onde não houvera uma parada total, uma irreparável solução de continuidade do progresso humano". E diante do papel vital da Igreja Católica em meio à "torrente furiosa" dos invasores, Durkheim não hesita em declarar: "Não tivesse estado lá a Igreja naquele momento, estava acabada a cultura humana e podemos perguntar-nos o que teria sido da civilização".

Nessa obra-prima da história da educação (infelizmente menosprezada pelos doutrinadores marxistas que infestam as faculdades de pedagogia), Durkheim mostra que o ensino oferecido pelo cristianismo não se limitava a adornar o aluno com habilidades externas, como se fazia na Antigüidade Clássica, mas procurava alcançar o âmago de sua personalidade, o que significava criar o próprio indivíduo, construindo nele um "estado interior e profundo", abortado em Sócrates, alguns séculos antes. Ao contrário do que acredita a ignorância laica que se passa por ciência avançada, o indivíduo não é uma invenção da Renascença ou da ascensão da burguesia — ele nasce como filosofia em Sócrates e encarna-se como história em Cristo. O que são Sócrates e Jesus senão dois indivíduos que desafiam a Acrópole e o Sinédrio, buscando a verdade em si mesmos como imagem e semelhança de um Logos universal? Antes de ser institucionalizado pelo Império Romano, graças à disciplinada missão do soldado Saulo de Tarso (batizado Paulo), o cristianismo era uma espécie de pedagogia do livre-arbítrio contra as normas do Estado teocrático, daí a perseguição de que foi vítima durante séculos. Quando Jesus Cristo pronuncia sua célebre frase sobre o Império Romano ("Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus"), ele separa — pela primeira vez na história da humanidade — a Religião do Estado, desencarnando da figura do Rei a essência de Deus e fazendo nascer, verdadeiramente, a consciência individual. E em nome dela que prega o Papa Bento XVI — contra esse Estado laico cada vez mais louco.

Bento XVI, o mártir da imprensa

  • Por Silvio L. Medeiros
    A imprensa progressista anticatólica aprendeu uma grande lição com o saudoso Papa João Paulo II: é muito mais difícil destruir uma imagem pública quando ela já foi consolidada no imaginário coletivo. As grandes empreitadas de João Paulo II contra o comunismo, contra as guerras, contra os abusos dos direitos humanos, suas viagens a lugares esquecidos até então, seu perdão a Ali Agca entre outras inúmeras ações memoráveis, solidificaram em muito pouco tempo uma imagem moral tão inabalável e tão enraizada na mente das pessoas, que quando este mesmo papa se posicionava a favor da vida, da família, da fidelidade, a mídia não conseguia ser tão eficiente na tentativa de fazê-lo parecer um lunático contraditório. Demorou mais de 15 anos para que essa mesma mídia começasse a ter algum sucesso ao associar insistentemente a imagem antes revolucionária do Papa João Paulo II, à de um irracional medieval.
    Por isso desde antes do último conclave, a impressa anticatólica começou um forte trabalho de especulação dos possíveis papáveis com imediatas taxações a cada um deles, incluindo o então Cardeal Ratzinger , identificando e avaliando sob o prisma da dialética progressista/conservador os melhores/piores, respectivamente. Tudo na tentativa de pegar o possível novo papa na ante-mão e iniciar antes dele o trabalho da formação da opinião-pública da sua imagem.
    Lição aprendida, agora é colocada na prática. Quando a fumaça branca indicou a eleição de um novo papa e quando aquele "ultra-conservador" saiu da janela superior da basílica de São Pedro acenando ao povo, começou dalí mesmo os disparos da metralhadora giratória sensacionalista, o movimento jornalístico contra um homem que acreditava que o mundo deveria se moldar a Deus e não o contrário. Se até hoje as pessoas não tem uma boa impressão deste santo homem, isso é de total responsabilidade da imprensa de massa, total, já que este homem sempre foi discretíssimo e anônimo para a maioria das pessoas a ponto de nem ser notado nas ruas de Roma. Como é possível ter antipatia instantaneamente a um homem que passou boa parte de sua vida dentro de salas de aula e de escritórios sem alguém muito mal intencionado fazendo o papel de língua suja?
    Desde então, se fosse possível, a imprensa anticatólica (ou seja, toda a grande imprensa de massa) reviraria de ponta cabeça a lata de lixo do Papa Bento. Nem guardanapo passaria batido. Se fosse possível, a imprensa colocaria escutas dentro do seu quarto, ou mesmo, câmera escondida em algum jornalista à paisana. Tudo para tentar encontrar alguma prova, algum furo, algum fato contra ele. É, mas não conseguem. Então fazem o que podem: caneta grifo na mão, leitura dinâmica em palavras chaves e voulá! Uma nova manchete no jornal.
    E aqui vale tudo. Se o papa faz um discurso numa universidade aonde censura a violência e propõem um caminho de fraternidade e de diálogo com todos os homens de todas as religiões, pronto. O que dá para grifar? Menos de 10% do discurso, algo sobre a religião muçulmana. Qual o contexto? Não importa. Quem começa a pancadaria? BBC, agência de notícias Britânica. Numa manchete traduzida para as línguas árabe, parsi, turco, urdu e malaio (próprias das comunidades islâmicas) vem o primeiro golpe: "O discurso do Papa excita a ira muçulmana".
    Detalhe: até aquele momento, absolutamente ninguém havia realmente lido o discurso da aula magna proferida pelo Papa em Rastibona nas línguas orientais. Seu discurso não fora traduzido para essas línguas. Era impossível que muçulmanos estivessem irados efetivamente com as palavras do Papa; na realidade tais palavras para eles ainda nem existiam. Sendo assim, todas as condenações feitas pela comunidade muçulmana às palavras de Bento XVI, todas, foram baseadas nos trechos narrados pelas agências de notícias a partir do que a BCC narrou. A partir daí foi o alvoroço mundial: "Já existe ódio religioso de sobra no mundo. Por isso é particularmente inquietante que o Papa Bento XVI tenha insultado os muçulmanos " (NYT ) [1] ;"Bento 16 disse que o Cristianismo está estreitamente ligado à razão, em oposição aos que tentam espalhar a fé pela espada" (Reuters). Face a essa mesma notícia da agência Reuters , a máxima autoridade do Islâ na Turquia, confessou que estava horrorizado com o discurso do Papa, não pelo que ele efetivamente falou, mas pelo que foi noticiado [2].
    Depois que o discurso foi disponibilizado para mais línguas e as palavras do Papa puderam ser avaliadas dentro do contexto denso e intelectual a que proferiu, depois que as pessoas que se deram ao trabalho de ler seu discurso na íntegra viram que suas idéias estavam completamente na direção contrária do que fora divulgado, na direção da paz e da rejeição radical da violência, vieram alguns mea-culpas: "Na opinião da Comissão Européia, qualquer reação deve estar baseada no que foi dito efetivamente, e não sobre citações extrapoladas, inclusive deliberadamente" [3]. Depois vem o prêmio da Acadêmia de literatura da Alemanha para o melhor discurso do ano. Mas assim é a imprensa anticatólica, primeiro condene, depois verifique.
    Se o Papa publica um documento sobre a eucaristia que nada mais é do que um resumo de um sínodo dos Bispos sobre o tema em forma de exortação, que trata de mais de 90 tópicos sobre o assunto, e em um dado momento se refere ao segundo casamento como um espinho doloroso, uma chaga do contexto social, pronto, grifo na mão, até para o que não foi escrito: "Papa Bento XVI chama segundo casamento de praga social", diz o jornal o Estado de São Paulo na matéria de capa, num peso tão grande que pode ser comparado ao que acabei de dar; "Dê a sua opinião sobre a declaração polêmica do papa" pergunta inúmeros veículos de comunicação; "Enquete: você concorda com o papa de que o segundo casamento é uma praga?"; artigos de protesto, manchetes em telão, elevador, celular…e por aí vai.Resolví enfatizar a chamada de capa do jornal o Estado aumentando tanto o tamanho da fonte, porque no momento de se retratar, o que a imprensa brasileira fez foi exatamente o contrário; resolveu se encolher bem encolhido, como uma criança arteira que foge das consequências de seus atos. A edição de 16 de maio de 2007 da revista Veja sintetizou bem esse comportamento irreponsável e inconsequente da nossa imprensa, quando dedica 10cm2 para fazer um pequeno comentário editorial, o qual reproduzo aqui com o mesmo peso dado pela revista, ou seja, de entrelinhas: ". ..quando usou a palavra piaga em março, ao falar do segundo casamento...estava querendo dizer chaga, ferida, e não "praga" como a imprensa tupiniquim traduziu indevidamente".Em sua visita para a Inauguração da Conferência Espicopal Latino Americana em Aparecida, tudo é assunto, menos aquilo que o Papa veio efetivamente fazer, que é canonizar Frei Galvão e iniciar as atividades do CELAM. Quer dizer, tudo é assunto dentro do ponto de vista negativista, aquele em que se excluem quaisquer valores passíveis de serem admirados pelo público assim como possíveis ideais em convergência com a opinião-pública liberal. Para isso abrem-se as gavetas das queridinhas do jornalismo progressista, cheias daquelas primícias capazes de taxar rapidamente uma pessoa a partir da dialética conservador/ mal, liberal/ bom: aborto; ordenação de mulheres; camisinha; anticoncepcionais; células-tronco; homossexualidade.
    Os maiores exemplos foram os jornais Estado e Folha de São Paulo que veicularam em manchete de capa no dia da chegada do Papa, que este vinha ao Brasil para frear o aborto, punir os políticos, restaurar a união da Igreja com o Estado. Dedicaram para isso um sem números de artigos e opiniões de inimigos assumidos da Igreja, partes interessadíssimas em denegrir sua imagem, como teólogos da libertação, "falsas católicas pelo direito de decidir", ministro da saúde etc. O mesmo de sempre. A idéia é essa mesma, vencer pelo cansaço. No fim, não fica nem uma pálida sombra do Papa que suplica pela paz, que indaga a ausência de Deus nos campos de concentração, que afirma que Deus é amor, que rejeita a violência fundamentada na religião e que pede a eliminação da miséria. Fica o Papa "linha-dura", "mão de ferro", o " rotweiller de Deus". Como disse o canal de notícias Band-News na noite do dia 10, "o Papa do Não, Não, Não", e também "o Papa das contradições".
    Tudo vale quando se trata de fazer esse homem parecer ultrapassado, retrógrado, cavaleiro da idade-média, inquisitor. O portal de notícias Terra, por exemplo, no dia da chegada do Papa ao Brasil chegou ao cúmulo da falta de respeito quando lançou uma enquete insinuando ao público a possibilidade do Papa Bento mentir quando disse que sua visita tinha uma missão unicamente religiosa: "você acredita que o Papa veio para o Brasil unicamente por razões religiosas? ". Faça-me o favor!
    O intuito? Descredibilizar, rebaixar, diminuir, porque na realidade, seus críticos não suportam o fato de não conseguirem sustentar qualquer opinião contrária a dele em altura digna, sem cairem no "achismo" e na posição sem fundamento. Sabem que este Papa é uma figura humana e intelectual capaz de vencê-los em qualquer assunto de moral e fé, e em muitos outros. Se limitam a discordar sem nunca sequer refutar qualquer um de seus argumentos ou buscar entender sua razão disponível em algum de seus livros ou escritos. Não o conhecem e na verdade querem distância, porque o preconceito já é mais confortável do que a imparcialidade. O que possuem de mais latente é o medo, que no final das contas, é da própria verdade, que liberta e que compromete.
    Mas São Francisco estava certo, a verdade se prova por sí só, não precisa ser defendida. Com efeito Bento XVI não precisou de uma única palavra para se defender quando chegou ao Brasil, de todas as ofensas e notícias tendenciosas divulgadas a seu respeito; bastou unicamente sua eloquência e autoridade de quem vive o que prega, para que um clima de receptividade e carinho alcançasse a todas as pessoas de boa vontade desse país. Saindo na chuva e na noite mais fria do ano, os paulistanos o acolheram com amor e um baita sorriso nos rostos.
    Então penso que o mais insuportável para essa militância toda é o fato de que apesar de todo o esforço que fazem para transformar Bento XVI em um tirano, as pessoas ainda assim o amam, o buscam! Sim, eu estava lá! Pude ver com meus olhos mais de 50 mil jovens provenientes de todo o mundo atravessar uma noite toda de viagem e de espera, unicamente para ver e ouvir no estádio do Pacaembú a presença deste Papa Alemão. Pude ouvir com meus ouvidos um ensurdecedor "Não ao aborto, sim a vida!", um encantador "Papa eu te amo", uma calorosa salva de palmas a castidade e ao matrimônio, ver com meus olhos as lágrimas de emoção de toda aquela juventude quando o Papa os saudou, quando disse que gostaria de dar em cada um, um grande abraço bem brasileiro e que desejara ardentemente ter se encontrado com eles, sentir com profundidade o calor e a vibração daqueles corações que se expressavam em cânticos de amor e compromisso a Deus através do Vigário de Cristo. Num ambiente assim ninguém arrisca encomendar uma pesquisa sobre o que o jovem católico acredita acerca de preservativos, matrimônio, aborto etc.
    Na manhã seguinte, entre uma atividade de trabalho e outra, pude escutar um comentarista da Rede Globo que cobria a missa de canonização de Frei Galvão, que o Papa Bento XVI havia mudado sua imagem de frio e distante pelo seu esforço em acolher o povo, quebrando o protocolo e aparecendo mais de 10 vezes na sacada de seu quarto, sorrindo integralmente em todas as atividades e sempre caloroso e amável para com cada pessoa que chamava o seu nome. Na verdade o que esse comentarista fazia era isentar a classe jornalística de responsabilidade na construção dessa imagem dura e monstruosa do Papa, justamente agora que não dava mais jeito, que o povo já havia entendido que tudo não passava de uma grande besteira. Lavou as mãos e jogou nas mãos do Papa a sutil insinuação de que havia mudado para agradar. Besteira! Na verdade, o que o Papa Bento XVI fez aqui no Brasil não foi nada diferente do que fez em Colônia com os jovens, do que fez na Turquia, na Itália e na Polônia. É que agora com ele tão próximo não dava mais para esconder. Mais do que se mostrar como o homem que sempre foi, de mostrar com sua vida a verdade mais íntima de seu ser, o Papa Bento XVI provou pelo sentir que tem algo de especial e que merece ser ouvido.
    Ao final da missa ele beija o altar, como sinal dos primeiros cristãos que se renegavam a beijar os pés dos imperadores romanos e preferiam a morte à retroceder na sua fé. O faz nos dias de hoje como aquele que não irá se curvar a cultura da morte, a idolatria do prazer, ao materialismo ateu. Para Bento XVI, assim como para esses primeiros cristãos, sofrer pela fé e pela verdade é verdadeira alegria, é delicioso manjar. E ao passar pela cruz da humilhação pública, ao suportar calúnias, distorções, difamações, cusparadas e agressões, ao ter sua vida examinada, ao ser crucificado moralmente todos os dias, entre tantas outras injustiças, este Papa torna-se assim muito maior do que simplesmente o líder da religião católica. Torna-se também num arquétipo. Em um sumo exemplo. Num sinal do que todo católico, daquele que crê em céu e inferno, em pecado e salvação, deve necessariamente passar para provar e vencer a sua fé nos dias modernos. Transforma-se por último numa luz santa que brilha esplendorosamente, livre, feliz, transcendente, arrastando e convencendo de que vale a pena sofrer pela causa do Reino dos Céus, de que o que importa é antes agradar a Deus, e não aos homens.
    A militância anti-católica não entendeu é nada.
Silvio L. Medeiros. Apostolado Veritatis Splendor: Bento XVI, o mártir da imprensa. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4268. Desde 16/5/2007.

Mais uma fácil solução para problemas antigos

  • André Lazzarini
    Incomoda-me, retiro-o: se é um tumor, extirpa-se; se é uma sujeira, varre-se; se é uma ruga, estica-se; se é uma gravidez; aborta-se. Fácil e banal assim!
    A facilidade em sugerir soluções mágicas e instantâneas para os problemas que se apresentam para a sociedade moderna é assustadora. Nada de propostas a longo prazo, educacionais, com bases sólidas e resultados duradouros. Ninguém tem a coragem de propor e defender soluções educacionais que demorem mais de um “mandato político” para serem postas em prática e surtir seus efeitos. Banaliza-se a educação, os valores morais e, por fim, a vida. Vejamos alguns exemplos mágicos: a “exclusão” nas universidades: ao invés de empenhar-se em elevar o nível das escolas públicas (solução demorada), surgiu a solução mágica (e discriminatória) das cotas; o excesso de velocidade no trânsito: radares pelas cidades – além de punir indiscriminadamente, arrecada-se mais para os cofres públicos: e educar que é bom, demora demais! E assim, nesse raciocínio míope e eleitoreiro, vão pipocando saídas mágicas para os problemas que vão surgindo.
    É infinitamente mais fácil apelar para o aborto do que educar: é muito mais difícil e de resultado demorado esclarecer e educar a sociedade sobre uma sexualidade responsável, principalmente num mundo em que a mídia empurra goela abaixo uma erotização crescente e uma sexualidade promíscua e inconseqüente. Sofrem muito mais ainda todos aqueles que não dispõe de uma educação que lhes permita separar o excesso de joio do escasso trigo que vem pela mídia. Valores como amor verdadeiro, casamento, fidelidade e sexo responsável são exemplos que estão se esvaindo cada dia mais das vidas das pessoas, principalmente das crianças e dos jovens; além de serem rotulados “caretas” e infelizmente não vendem revistas e nem dão audiências aos programas de TV, pois a maioria da sociedade já se encontra perdida e sem parâmetros para uma escolha sadia. São esses valores morais que a sociedade que se diz moderna e evoluída deveria preservar para o bem comum, para merecer a denominação moderna e evoluída.
    Querer misturar a discussão sobre o aborto com religião é outro embuste! É certo que a discussão invoca os sentimentos religiosos pela defesa incondicional pela Igreja da vida desde a concepção até sua morte natural, mas nosso estado é laico por força constitucional, além de que a mesma constituição prega a defesa da vida de todos os brasileiros – portanto é contra a pena de morte, principalmente de inocentes e indefesos.
    Agrava-se a discussão quando se utilizam capciosamente as palavras do Santo Papa para justificar a liberdade de escolha da mulher: a liberdade que o Papa diz é no contexto religioso: somos livres, e temos que ser conscientes para decidir, mas arcamos com as conseqüências de nossas escolhas.
    Os que defendem o aborto como uma questão de saúde pública, querem que tal ato deixe de parecer um crime: mas como o fazê-lo se o pobre é indefeso e não pode manifestar-se em defesa de sua vida? Descaracterizando-o como pessoa, como ser vivo e com direitos constitucionais. CUIDADO COM ESSA JUSTIFICATIVA DE "SAÚDE PÚBLICA"! Aceitá-la, é um passo dado em direção à aceitação de outras questões que certamente aparecerão num futuro próximo, e que serão propostas como saúde pública: problemas congênitos, limitações físicas e mentais, síndromes, etc.: todos poderão ser encarados como “problemas” que onerarão o Estado, tornando-se assim questão de saúde pública, quando poderá ser sugerida outra saída mágica como esta que agora se propõe. O Estado tem o dever de defender a vida e não condená-la a morte. Ao debater sobre o aborto, alega-se estar em defesa da vida da mãe, sem sequer dar um dedo de proteção ao inocente que cresce em seu ventre. Os que defendem o aborto como uma questão de saúde pública, querem que o ato de matar um feto deixe de parecer um assassinato: o pobre está indefeso e não tem como se manifestar dando seu testemunho defendendo sua vida.
    Se pudéssemos entrevistar um feto a respeito do aborto á que ele estaria condenado, sabe o que ele diria? O mesmo que VOCÊ diria caso você fosse condenado à morte, sem direito à defesa prévia. Considere isso, antes de manifestar-se a favor do aborto.

Sexo antes do casamento

  • André Lazzarini
    Sra Teresa Márcia Brauco (Folha de Londrina, 12/05/2007 - Seção Cartas, página 02): a Igreja não "permite" o sexo antes do casamento. E isso não é "conservadorismo da Igreja", mas sim a sua permanência nos valores morais. Embora a Sra diga que amadureceu e entende hoje a posição da Igreja, sugiro que a Sra e alguns os católicos revejam suas fontes de informações: programas como "Fantástico" não se mostram educadores. O Santo Papa disse em sua homilia, 11/05: "É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento." E, em seu discurso no Pacaembu, 10/05: "Um homem ou uma mulher despreparados para os desafios reais de uma correta interpretação da vida cristã do seu meio ambiente será presa fácil a todos os assaltos do materialismo e do laicismo, sempre mais atuantes em todos os níveis." Somos livres em nossas escolhas. Quem não souber escolher o caminho certo - ensinado por Jesus - estará mais exposto aos desvios morais e às suas conseqüências. Estejamos atentos ao nosso modo de vida: ele agradaria a Jesus? Devemos policiar nossas fontes de informações e entretenimento: são fidedignas e sadias?


Carta publicada aqui na íntegra, mas com cortes na Folha de Londrina - 16/05/2007 - página 02

Jesus, do nascimento aos 33 anos

  • André Lazzarini
    (1ª Parte)
    Maria, Santa predestinada desde seu nascimento, foi agraciada com a visita do anjo Gabriel que, em sua santa mensagem, comunicou-lhe que fora a escolhida do Senhor. Ela não titubeou um instante sequer: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua palavra.” (Lc 1,38). Jesus nasceu do ventre da Virgem Maria, e, conforme já havia sido antecipado, foi reconhecido como o Cristo por onde passou, desde seu nascimento, testemunhado pelos pastores que receberam a visita dos anjos do Senhor e anunciaram o nascimento do Salvador até seus últimos dias.
    Temos que, já no dia da apresentação de Jesus no templo, como era costume e seguindo a Lei de Moisés (Lc 2,22), apareceu Simeão, que já tinha recebido a visita do Espírito Santo que lhe revelou que ele não morreria sem conhecer o Cristo do Senhor. E assim, impelido pelo Espírito Santo, a ir ao templo: “Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações e para a glória de vosso povo de Israel. (...) Eis que esse menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma.” (Lc 2, 29-32, 34-35).
    Assim Jesus, sendo esperado por muitos, foi apenas reconhecido e aceito por alguns. Viveu uma infância normal, aprendendo tudo o que lhe ensinavam à época. Aos cinco anos, Jesus começou a freqüentar, como todos os meninos de Israel, a Beth ha sefer, uma instituição docente equivalente as nossas escolas primárias, que dependia da sinagoga. Assim, teve suas lições escolares, e juntamente, religiosas. Aprendeu orações e rezava-as sozinho ou na oficina, junto de seus pais. Durante o dia, ao anoitecer, em voz alta, rezando e crescendo em sua religiosidade.
    Sua inteligência para os ensinamentos do Senhor era superior, como podemos ver na sua primeira demonstração, aos doze anos, quando seus pais, ao voltar das celebrações da Páscoa de Jerusalém, perderam-se Dele, mas, achando que Ele estava junto de seus companheiros de comitiva, andaram um dia em seu caminho. Ao saírem para procura-Lo, perceberam que ele havia ficado em Jerusalém. Somente o encontraram três dias depois, no templo, falando aos doutores, todos maravilhados com seus conhecimentos, quando respondeu à ansiedade de seus pais: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu pai?” (Lc 2, 49-51).
(publicado na Folha de Londrina, 21/05/2007, página 02)

  • (2ª Parte)
    “A iniciativa e a consumação só a Deus pertencem. Ele organiza as bodas e sai pelos caminhos fazendo convites (Lc 15,3-7). Onde e quando vai se apagar o fogo da humanidade? Só Deus sabe a hora exata (Mc 13,32). Simão, você falou bem, mas não foi por instinto nem por sua natural sagacidade. Foi inspiração do Alto (Mt 16,16). Se cressem, veriam prodígios: saltando como um cabritinho esse morro iria até o mar; daquele pinheiro nasceriam as asa como as de uma águia, que o levariam voando para outros continentes, para firmar lá as suas raízes (Lc 17,6)”.
    Sua juventude fora simples e normal como qualquer jovem trabalhador, ajudante de seu pai na oficina e presente na vida de sua mãe, até sua vida adulta. Sua “Santidade”, seu amor pelo Pai e seu saber para tecer seus ensinamentos não aconteceu numa só noite. “Foi um longo caminhar através de vários anos, como em tudo que é humano. O Jovem foi avançando de sol a sol, noite após noite, mar adentro, cada vez mais longe, na rota ascendente que leva ao alto manancial do Amor, o Pai” (Ignácio Larrañaga em “O Pobre de Nazaré” – ed. Loyola, 8ª ed., p.36).
    A maior prova da vida simples de Jesus é que o Novo Testamento relata a surpresa dos cidadãos de Nazaré quando Ele vai a essa cidade proclamando as Boas Novas do Senhor ("não é esse o filho do carpinteiro José?" Lc 4,22). Se Ele tivesse ido para qualquer lugar que fosse, para estudar outras ciências, os cidadãos de Nazaré não iriam achar estranho o fato de Ele querer aparecer como um profeta, anos mais tarde.
    Jesus, batizado por João, não o conhecera na sua juventude. Como poderia, já que suas mães eram aparentadas? Segundo Ignácio de Larrañaga, João, que fora concebido na velhice de Isabel, deve ter ficado órfão com pouca idade e diz-se que seus parentes próximos devem tê-lo levado ao deserto quando ainda era novo. Tal “deserto” supõe-se ser o Mosteiro de Qumram, situado no deserto de Judá, habitado pelos essênios. Estes, por sua vez, eram desligados de Jerusalém e tinham seus próprios costumes religiosos, no intuito de conservarem e restaurarem a santidade do povo num âmbito mais reduzido, o de sua própria comunidade. O costume do isolamento em regiões desérticas desse povo, tinha como objetivo a descontaminação derivada do contato com outras pessoas, de outras crenças e do mundo exterior à sua comunidade. A sua renúncia às relações comerciais não é um ideal de pobreza, mas sim para evitar essa contaminação. (fonte:
    http://www.opusdei.org.br/art.php?p=16286) Praticavam o batismo, que João deve ter aprendido no Mosteiro.
    Isso justifica o desconhecimento de Jesus por João. Este sim, pode ter vivido com os essênios, e assim pode ter passado algum conhecimento do modo de vida dos essênios para Jesus, após se re-encontrarem.
(Publicado na Folha de Londrina, 28/05/2007 - página 02)

  • (3ª Parte)
    Não há como misturar o cristianismo e o budismo ou outras religiões e filosofias orientais, pois o cristianismo se destaca de todas as outras por diferenças fundamentais, ensinadas por Jesus nos evangelhos.
    No Budismo, viver é sofrer, mas a solução para o sofrimento é a busca e a eliminação da fonte deste sofrimento; já no cristianismo a solução é transformar o sofrimento de forma que ele tome um novo significado: Cristo morreu na cruz e não acabou com o sofrimento, mas transformou-o em algo positivo, redentor. Para o cristão, a meta não é acabar com o sofrimento, mas abraçá-lo, dando-lhe um novo significado. O cristianismo é uma religião que leva as pessoas ao exterior, à caridade, ao passo que as religiões orientais levam as pessoas a se interiorizarem.
    A idéia da reencarnação não tem lógica dentro do cristianismo: o cristianismo fala da existência do pecado original: a humanidade foi criada perfeita e em completa harmonia com Deus. Só que um pecado fez com que se quebrasse essa harmonia. Para Deus, nós herdaríamos as características que nossos primeiros pais tinham quando foram concebidos, mas como houve o pecado, acabamos por herdar uma desordem (veja: no intelecto estamos confusos; na vontade temos dificuldade de fazer o bem mesmo quando sabemos o que deve ser feito; e nas paixões estamos descontrolados principalmente no que diz respeito à luxúria e à ira).
    Ademais, no cristianismo não há lógica a “purificação” a cada encarnação para chegar à santidade. Essa idéia não tem sentido porque ninguém aprende com um castigo dado em decorrência de um erro que não se tem consciência ou conhecimento de ter cometido. Acreditar que as pessoas pagam com seu sofrimento atual, erros cometidos por vidas passadas, leva-me a ignorar o sofrimento do próximo, já que ele está passando (ou pagando) por aquilo que é somente dele, assim nada posso fazer por ele, levando ao pensamento egoísta e diametralmente oposto ao principal ensinamento de Cristo: “amai-vos uns aos outros” (João 13,34-35). A idéia da reencarnação é muito mais facilmente assimilável para todos e mais atraente do que a do pecado original, mas se analisarmos a conseqüência de se acreditar em uma e outra, a conclusão é que a última é muito mais positiva e verdadeira, pois a primeira pode dar margem até mesmo para crueldades. Além do mais, Deus é amor, Deus não castiga, Deus perdoa, e Deus nos aceita como somos, e nos receberá desde que nós nos arrependamos de nossos pecados na certeza de não voltar a cometê-los e seguir seus ensinamentos, procurando imitá-lo em nosso modo de vida, dentro das nossas limitações e da nossa imperfeição. (fonte de algumas informações: Peter Kreeft – filósofo americano, católico, muito respeitado, professor da Boston College).
(Publicado na Folha de Londrina - 04/06/2007 - página 02)

  • (4ª Parte)
    Existe ainda um ponto a diferenciar o cristianismo das tradições orientais: estas são panteístas – acreditam que deus está em tudo (deus é tudo). Assim, não existe contradição entre bem e mal, já que deus é o bem e também é o mal. No cristianismo: Deus está separado das coisas, de forma que o mal foi introduzido por outras criaturas e não por Deus. A idéia também de céu e inferno pertence ao cristianismo (podemos encontrar inúmeras passagens nos Evangelhos), e não se encontra nas filosofias orientais.
    O celibato não é invenção dos homens. No Evangelho segundo Mateus 19,12, Jesus disse: “Há eunucos que nasceram assim, desde o ventre materno. E há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens. E há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem tiver capacidade para compreender, compreenda!”
    Todas essas informações foram pesquisadas nas escrituras sagradas e em livros de autores aceitos pela Santa Sé e que regem o cristianismo da Igreja Católica. E não poderia ser diferente. Se eu sou Católico, aonde procurarei minha fonte de informação para enriquecer meus conhecimentos cristãos? Nos escritos achados em qualquer canto? Com escritores não cristãos? Em publicações fantásticas e super-interessantes encontradas na banca de revistas mais próxima? Com escritores que se dizem cristãos, mas que não seguem a orientação da Santa Igreja?
    Deixemos de ser cegos para enxergar a verdade onde ela realmente está; deixemos de procurar falsas verdades para justificar nossos atos humanos e imperfeitos, contrários aos ensinamentos do Senhor; deixemos de procurar qualquer verdade fora do caminho Santo, somente para facilitar a vida, justificando uma vida sem virtudes, cheia de valores materiais e pobres em valores morais.
    Devemos abrir os olhos de nossa inteligência e principalmente de nosso coração para deixar a verdade divina penetrar em nosso ser e permitir que a fé verdadeira desenvolva as maravilhas do Senhor dentro de nossas vidas.
    O livre-arbítrio é dado a todos. Temos a inteligência como um presente de Deus e um dom do Espírito Santo. Podemos usá-la para o bem ou para qualquer outro fim. A decisão é sua. Se eu quiser ser fiel ao Deus Pai, sei o caminho que tenho que seguir: a Santa Igreja. Posso me rebelar contra ela e seguir o caminho que bem entender, afinal sou livre para tal. Mas minha fé crê verdadeiramente em Deus Pai, Todo Poderoso, que é o criador do céu e da terra; também em Jesus Cristo, seu único filho e Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus e está sentado a direita de Deus Pai Todo Poderoso, donde há de vir há julgar os vivos e os mortos. A minha fé também me ensina a crer na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e também na vida eterna! Amém.
(Publicado na Folha de Londrina - 11/06/2007 - página 02)

Um caminho para recuperar fiéis

  • André Lazzarini
    Eu não entendo o porquê da preocupação que seguidores de outras religiões e seitas têm com os pensamentos e discursos do Santo Papa. Cada um que siga seu líder espiritual... embora seja desejo dos católicos que todas as pessoas percebam o verdadeiro caminho Cristão dentro do catolicismo. Aceitando que o Papa é o sucessor do Apóstolo Pedro e que a Igreja, assim como o Paraíso Divino é obra de Deus e não democracia e nem ditadura (invenção do homem), os católicos devem limitar-se a ouvir, debater, e enfim obedecer. Aos não católicos, cabe a sua livre decisão de qual caminho seguir, já que o livre-arbítrio foi dado aos homens desde a sua criação. Mas jamais dizer o que o Papa deve ou não fazer.
    O Catolicismo não se cansa de, através do Papa, pedir ecumenicamente que a humanidade que se oriente pela mensagem de Jesus: viva o amor ao próximo, proteja a vida a todo instante e em qualquer situação, compreenda as pessoas, seja humilde, persiga incansavelmente o caminho da paz entre os povos. O Papa, sempre iluminado pelo Espírito Santo em suas falas, nunca profere palavras que não sejam de paz e compreensão. Infelizmente vemos o insano desejo de agredir o Papa – assim como foi feito com Jesus – o que é fato notório nas distorções de suas palavras e suas idéias pelas nas publicações mundo afora. Interpretações capciosas são dadas a todo o momento. Se alguém quiser ler na íntegra, sem contaminações, os dizeres do Papa, as suas homilias e seus discursos, sugiro que procurem fontes confiáveis, sempre ligadas ao Vaticano ou à alguma instituição Católica.
    O homem, portador de liberdade plena, procura a todo instante justificar suas atitudes. É normal que, dentro desse modo de pensar, procure todos os caminhos que justifiquem seu modo de vida, suas ações da forma como bem lhe convier. Seguir os ensinamentos de Jesus, através da Igreja Católica deixada por Ele para nós, é algo deveras difícil (humanamente falando), pois necessita que o homem escolha, por sua livre e espontânea decisão, um caminho de fé, de amor, de paz, de simplicidade, e de humildade ao se dobrar perante nosso Deus, louvando-o e idolatrando-o. Esse caminho é difícil, pois o mundo atual é contaminado por impurezas que atentam contra o Cristianismo (não só o Catolicismo). E nem todas as pessoas estão dispostas a se sacrificar para ter uma vida Cristã reta e direita, e muito menos encarar um sacrifício infinitesimamente menor como Jesus se enfrentou. Ele acabou na cruz... alguém estaria disposto à esse fim também?
    É mentira dizer que a Igreja Católica amedronta seus fiéis com idéias de demônios e de penosos castigos divinos. Deus não castiga. Deus é amor, Deus é perdão, Deus é pacificador: para viver Suas graças, basta que você se reconheça como pecador e seja humilde redimindo-se perante Ele. Amedrontador é dizer que tudo o que passamos nessa vida é um preço que pagamos por pecados cometidos em outras encarnações e que teremos que nos re-encarnar muitas vezes mais para podermos nos santificar. Deus que me livre desse sofrimento!
    Eu diria que o caminho para recuperar fiéis passa antes pelo caminho de um auto-exame pessoal: as pessoas perceberem seu modo de vida, suas atitudes e seus pensamentos: se eles seriam ou não a vontade de Cristo para nós. Quando se derem conta disso, enxergarão claramente a verdade nos ensinamentos de Cristo que são o caminho próprio da Igreja Católica.


Publicado na Folha de Londrina - 11/05/2007 - página 02

Homilia de Bento XVI na Quinta-Feira Santa - 05/04/2007

Caros irmãos e irmãs,
Na leitura do Livro do Êxodo, que há pouco escutamos, vem descrita a celebração da Páscoa de Israel, como era regulamentada na lei mosaica. Na origem poderia ser uma festa de primavera dos nômades. Para Israel, todavia, ela foi transformada em uma festa de comemoração, de ação de graças e, ao mesmo tempo, de esperança. No centro da ceia pascal, ordenada segundo determinadas regras litúrgicas, estava o cordeiro como símbolo da libertação da escravidão no Egito. Por isso o haggadah pascal era parte integrante da refeição à base de cordeiro: a lembrança narrativa do fato de que foi o próprio Deus quem libertou Israel «com a mão levantada». Ele, o Deus misterioso e oculto, revelou-se mais forte que o faraó com todo o poder que tinha à sua disposição. Israel não devia se esquecer que Deus tinha pessoalmente levado nas mãos a história de seu povo e que esta história era continuamente baseada na comunhão com Deus. Israel não devia esquecer-se de Deus.
A palavra da comemoração era circundada pela palavra de louvor e de ação de graças trazida pelos Salmos. O agradecer e bendizer a Deus tinha seu cume na berakha, que em grego é dita eulogia ou eucaristia : o bendizer a Deus se torna bênção para aquele que o bendiz. A oferta doada a Deus retorna abençoada ao homem. Tudo isso erguia uma ponte do passado ao presente e frente ao futuro: ainda não estava completa a libertação de Israel. A nação ainda sofria como pequeno povo no campo das tensões entre as grandes potências. O fato de lembrar com gratidão o agir de Deus no passado torna assim, ao mesmo tempo, súplica e esperança: leva a cumprimento o que foi iniciado! Dá-nos a liberdade definitiva!
Esta ceia com múltiplos significados foi celebrada por Jesus com os seus na tarde antes de sua Paixão. Como base, neste contexto devemos compreender a nova Páscoa, que Ele nos deu na Santa Eucaristia. Nos relatos dos evangelistas existe uma aparente contradição entre o Evangelho de João, por um lado, e o que, por outro, nos comunicam Mateus, Marcos e Lucas. Segundo João, Jesus morre sobre a cruz precisamente no momento no qual, no templo, eram imolados os cordeiros pascais. A sua morte e o sacrifício dos cordeiros coincidem. Isso significa, porém, que Ele morreu na Vigília da Páscoa e, portanto, não pôde pessoalmente celebrar a ceia pascal -- isso, ao menos, é o que parece. Segundo os três Evangelhos sinóticos, ao contrário, a Última Ceia de Jesus foi uma ceia pascal, em forma tradicional. Ele insere a novidade do dom de seu corpo e de seu sangue. Esta contradição até alguns anos atrás parecia insolúvel. A maioria dos exegetas era da opinião que João não quis comunicar-nos a verdadeira data histórica da morte de Jesus, mas preferiu uma data simbólica para tornar assim evidente a verdade mais profunda: Jesus é o novo e verdadeiro cordeiro que derramou seu sangue por todos nós.
A descoberta dos escritos de Qumran nos conduziu, entretanto, a uma possível solução convincente que, ainda que não seja aceita por todos, possui, todavia, um alto grau de probabilidade. Podemos agora dizer que o que João relatou é historicamente preciso. Jesus realmente derramou seu sangue na vigília da Páscoa, na hora da imolação dos cordeiros. Ele, porém, celebrou a Páscoa com seus discípulos provavelmente segundo o calendário de Qumran, pelo menos um dia antes --celebrou-a sem cordeiro, como a comunidade de Qumran, que não reconhecia o templo de Herodes e estava à espera de um novo templo. Jesus, portanto, celebrou a Páscoa sem cordeiro -- não, não sem cordeiro: no lugar do cordeiro deu-se a si mesmo, seu corpo e seu sangue. Assim, antecipou sua morte de modo coerente com sua palavra: «Ninguém me tira a vida, mas a ofereço por mim mesmo» (Jo 10, 18). No momento no qual apresentava aos discípulos seu corpo e seu sangue, Ele dava real cumprimento a esta afirmação. Ele mesmo ofereceu sua vida. Só assim a antiga Páscoa obtinha seu verdadeiro sentido.
São João Crisóstomo, em sua catequese eucarística, escreveu uma vez: O que está dizendo Moisés? O sangue de um cordeiro purifica o homem? Salva-o da morte? Como pode o sangue de um animal purificar o homem, salvar o homem, ter poder contra a morte? De fato -- continua Crisóstomo -- o cordeiro podia constituir só um gesto simbólico e, portanto, a expressão da espera e da esperança em Alguém que pode cumprir isso que o sacrifício de um animal não era capaz. Jesus celebrou a Páscoa sem cordeiro e sem templo e, todavia, não sem cordeiro e sem templo. Ele mesmo era o Cordeiro esperado, verdadeiro, como havia preanunciado João Batista no início do ministério público de Jesus: «Eis o cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo!» (Jo 1, 29). E é Ele mesmo o verdadeiro templo, o templo vivente, no qual habita Deus e no qual nós podemos encontrar Deus e adorá-lo. Seu sangue, o amor Daquele que é ao mesmo tempo Filho de Deus e verdadeiro homem, um de nós, cujo sangue pode salvar. Seu amor, aquele amor no qual Ele se doa livremente por nós, é isso que nos salva. O gesto nostálgico, de qualquer modo privado de eficácia, que era a imolação do inocente e imaculado cordeiro, encontrou resposta naquele que por nós se tornou juntamente Cordeiro e Templo.
Assim, no centro da nova Páscoa de Jesus estava a cruz. Desta vinha o novo dom trazido por Ele. E assim, ela permanece sempre na Santa Eucaristia, na qual podemos celebrar com os Apóstolos, através dos tempos, a nova Páscoa. Da cruz de Cristo vem o dom. «Ninguém me tira a vida, mas eu a ofereço por mim mesmo». Agora Ele a oferece a nós. A haggadah pascal, a comemoração do agir salvífico de Deus, tornou-se memória da cruz e ressurreição de Cristo -- uma memória que não recorda simplesmente o passado, mas nos permite entrar na presença do amor de Cristo. E assim a berakha, a oração de bênção e ação de graças de Israel torna-se nossa celebração eucarística, na qual o Senhor abençoa os nossos dons -- pão e vinho -- para doar neles a si mesmo.
Peçamos ao Senhor que nos ajude a compreender sempre mais profundamente este mistério maravilhoso, a amá-lo sempre mais e nisso amar sempre mais Ele mesmo. Peçamos-lhe que nos ajude a não reter nossa vida para nós mesmos, mas a doá-la a Ele e assim atuar junto a Ele, a fim de que os homens encontrem a vida -- a vida verdadeira que pode vir só d'Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Amém.
[Traduzido por Zenit © Copyright 2007 - Libreria Editrice Vaticana]
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Só o sangue de Jesus podia salvar-nos, explica Papa na Quinta-Feira Santa
Surpreendente homilia na qual oferece novas hipóteses históricas sobre a Páscoa
Foi uma homilia surpreendente, na qual o Papa teólogo harmonizou momentos de meditação com as últimas investigações históricas realizadas sobre os manuscritos de Qumran, encontrados no Mar Morto em 1947, que ainda hoje são matéria de estudo e que oferecem novas hipóteses sobre a Páscoa.
Seu objetivo era mostrar a novidade introduzida pela Páscoa de Cristo na Páscoa judaica, na qual se imolava um cordeiro em recordação da libertação do povo escolhido da escravidão do Egito.Com toda probabilidade, Jesus seguia o calendário que os essênios de Qumran observavam, seita rigorosa judaica em oposição ao poder sacerdotal de Jerusalém, que ainda em alguns aspectos continua sendo misteriosa para os historiadores, explicou o Santo Padre.
Segundo esta interpretação, «ainda não aceita por todos», como ele mesmo declarou, Jesus «celebrou a Páscoa com seus discípulos provavelmente segundo o calendário de Qumran, ou seja, ao menos um dia antes» da tradicional festa da Páscoa, «na hora da imolação dos cordeiros», como diz o evangelho de São João, algo que parecia contradizer a narração dos outros três evangelistas.
O cardeal Albert Vanhoye SJ, antigo reitor do Instituto Bíblico Pontifício de Roma, explicou que na época de Jesus, o calendário essênio era mais tradicional que o mais recente adotado pelos sacerdotes de Jerusalém, ainda que isso não significa que Jesus fazia parte dos essênios.
Isso implica, acrescentou Bento XVI, que Jesus celebrou a Páscoa «sem cordeiro, como a comunidade de Qumran, que não reconhecia o templo de Herodes e estava à espera do novo templo».
«Jesus celebrou a Páscoa sem cordeiro», ou melhor, declarou, «no lugar do cordeiro entregou a si mesmo, seu corpo e seu sangue».
O sangue dos cordeiros não pode salvar o homem, acrescentou o sucessor de Pedro. O sangue de Cristo, «o amor de quem é ao mesmo tempo Filho de Deus e verdadeiro homem, um de nós, esse sangue sim tem capacidade de salvar».
«Seu amor, esse amor no qual Ele se entrega livremente por nós, é o que nos salva».
Por este motivo, convidou os fiéis a pedirem o Cristo «que nos ajude a compreender cada vez mais profundamente este mistério maravilhoso e a amá-lo cada vez mais e, nele, a amar a Cristo cada vez mais».«Peçamos-lhe que nos atraia com a santa comunhão cada vez mais para si mesmo», concluiu.Bento XVI lavou, na missa na Ceia do Senhor, os pés de doze homens que representavam a associações de leigos da diocese de Roma nesta Quinta-Feira Santa.
Durante as oferendas, foi pedido a todos os presentes que fizessem um gesto de caridade pelo dispensário médico de Baidoa, na Somália, que em plena guerra atende aproximadamente 2.000 pacientes por mês.
ZP07040507